Desvendando os Segredos do Fígado e da Vitamina A para um Equilíbrio Nutricional Verdadeiro
- Amelia Bretas
- 9 de jul.
- 11 min de leitura
Nosso corpo é uma máquina extraordinária, projetada pela evolução para prosperar com os nutrientes certos. No entanto, a visão moderna sobre a alimentação muitas vezes nos afasta do que realmente nos nutre. Você já parou para pensar que o medo da gordura pode estar sabotando sua saúde, e que um alimento tão "simples" como o fígado pode ser um verdadeiro elixir da longevidade?
Quando adotamos uma alimentação focada em gorduras saudáveis e com baixo teor de carboidratos, nosso organismo passa por uma transformação fascinante: ele entra em um estado de cetose, produzindo corpos cetônicos. Esses corpos cetônicos são uma fonte de energia limpíssima e eficiente, capaz de alimentar o cérebro e otimizar diversas funções metabólicas.
É intrigante pensar que o cérebro, apesar de ser amplamente alimentado por glicose, também utiliza o colesterol como um de seus principais "combustíveis". Sim, o colesterol, esse nutriente muitas vezes vilanizado, é um componente essencial das membranas cerebrais. E o coração? Nosso motor vital se alimenta predominantemente de ácidos graxos, ou seja, gorduras! É por isso que quem restringe drasticamente a gordura da dieta pode comprometer a saúde cardiovascular. Uma leitoa pururuca, por exemplo, pode ser muito mais benéfica do que se imagina, apesar do choque inicial que isso possa causar em uma sociedade que desenvolveu uma verdadeira "gordurofobia". É hora de desmistificar e aproveitar a gordura com prazer e saúde.
Mas a jornada rumo à saúde ancestral não para por aí. Um grande mestre, o dentista e pesquisador Weston Price, dedicou 30 anos de sua vida a uma pesquisa revolucionária. Viajando pelo mundo com sua esposa, uma enfermeira, ele estudou povos isolados que viviam sem o contato da "civilização" moderna. O que ele descobriu foi chocante e inspirador: essas populações não apresentavam cáries, esquizofrenia, câncer, Parkinson, Alzheimer ou rugas. A ausência dessas doenças crônicas, tão comuns em nossa sociedade, levantou uma questão crucial: qual era o segredo de sua vitalidade?
Price, com seus recursos e visão, coletava os alimentos desses povos e os levava para análise. Assim, ele descobriu um elemento misterioso que chamou de Fator X. Por sete décadas, o Fator X foi um enigma. Hoje, sabemos que se trata da vitamina K2. E atenção: a vitamina K2 não é a mesma coisa que a vitamina K que você talvez já conheça. Ela é uma peça-chave no nosso quebra-cabeça da saúde.
A vitamina K2 tem uma função impressionante: ela age como uma espécie de "maestro" mineral, retirando o cálcio de onde ele não deveria estar (como artérias e tecidos moles) e direcionando-o para onde ele é essencial (ossos e dentes). Imagine o poder disso: um processo capaz de reverter a calcificação de uma válvula cardíaca em um ano! Essa inteligência inata do corpo, mediada pela K2, é fascinante. Atualmente, conhecemos 15 proteínas dependentes da vitamina K2, incluindo a calcitonina e a proteína MGP, que quando ativada, transforma "o velho em novo".
O segredo desses povos com saúde impecável estava na ingestão regular de vísceras, especialmente o fígado, que são riquíssimas em vitamina K2. Então, a escolha é clara: ou você suplementa com K2, ou incorpora um bife de fígado à sua alimentação semanal. E, sim, é gordo, mas é uma gordura saudável e cheia de vitalidade.
É fundamental entender que as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) necessitam de gordura para serem absorvidas pelo nosso corpo. Isso é crucial, especialmente para quem passou por uma colecistectomia (remoção da vesícula biliar). Pessoas que removeram a vesícula podem ter uma absorção deficiente dessas vitaminas essenciais e de outros nutrientes, impactando diretamente sua longevidade e bem-estar. Para esses casos, o uso estratégico de sais biliares durante as refeições pode ser um divisor de águas, garantindo a absorção adequada dos nutrientes e a prevenção de futuras complicações.
No entanto, mesmo nos pilares dessa abordagem, como o consumo de fígado, é crucial buscar o conhecimento aprofundado para evitar armadilhas. Recentemente, a crescente popularidade do fígado bovino, muitas vezes vendido como um "superalimento" sem ressalvas, acendeu um alerta importante: o risco da hipervitaminose A e o desequilíbrio de outros nutrientes essenciais.
É vital entender que, embora o fígado seja nutricionalmente denso, o consumo excessivo pode ser contraproducente. Indivíduos que incorporam grandes quantidades de fígado em suas dietas, especialmente através de suplementos, podem desenvolver desequilíbrios minerais, com níveis elevados de cobre e, por vezes, de cromo. Essa é uma preocupação real que merece nossa atenção.

A Complexidade da Vitamina A: Tipos e Toxicidade
A vitamina A não é um nutriente simples. Existem diferentes formas, e a maneira como nosso corpo as utiliza varia significativamente:
Pró-vitamina A (Betacaroteno): Encontrada em vegetais, como a cenoura, o betacaroteno precisa ser convertido em vitamina A ativa pelo organismo. Essa conversão depende de uma boa função intestinal e de fatores genéticos específicos, tornando-o uma forma menos assimilável.
Vitamina A Pré-formada (Retinol): Presente exclusivamente em alimentos de origem animal, como o fígado e o óleo de fígado de bacalhau, essa é a forma que nosso corpo pode usar diretamente. É por isso que o fígado é tão rico nesse nutriente.
A questão central reside no acúmulo. A vitamina A é lipossolúvel, o que significa que ela é armazenada no corpo, principalmente no fígado (cerca de 80-90%). Um influxo constante e excessivo pode levar à hipervitaminose A, uma condição de toxicidade.
Os sinais de excesso de vitamina A podem ser surpreendentemente semelhantes aos da deficiência e incluem:
Sintomas agudos: dores de cabeça, visão turva, perda de apetite, náuseas, vômitos, descamação da pele, dor abdominal.
Sintomas crônicos: manchas vermelhas na pele, falta de crescimento de cabelo, descamação das membranas mucosas, dor e sensibilidade óssea, irritabilidade e distúrbios do sono.
Se você ou alguém que você conhece apresenta esses sintomas e consome muito fígado ou suplementos de vitamina A, considerar uma dieta com baixa vitamina A pode ser uma estratégia valiosa, sempre com o acompanhamento de um bom profissional de saúde.
Embora a depleção da vitamina A possa levar tempo, alguns indivíduos relatam melhoras significativas rapidamente ao reduzir a ingestão.
Quantidades e Riscos: Desvendando os Números do Fígado Bovino
Quando falamos em números, a realidade do fígado bovino se torna ainda mais evidente. As quantidades diárias recomendadas (RDA) e os limites superiores toleráveis (UL) para a vitamina A foram estabelecidos para evitar tanto a deficiência quanto a toxicidade:
Crianças (1 ano): O limite superior tolerável é de 600 microgramas de vitamina A por dia.
Adultos (19-70 anos): O limite superior tolerável é de 3.000 microgramas de vitamina A por dia. No entanto, a RDA para um homem é de 900 microgramas e para uma mulher é de 700 microgramas.
Gestantes: Curiosamente, a recomendação para gestantes é menor do que para adultos em geral, devido ao risco de deformidades em bebês por excesso de vitamina A.
Considerando que 100 gramas de fígado bovino contêm aproximadamente 4.968 microgramas de vitamina A, e 28 gramas (equivalente a uma fatia fina) já fornece cerca de 1.400 microgramas, percebemos o quão fácil é ultrapassar os limites seguros. Para uma criança, apenas 28 gramas de fígado já representa uma dose tóxica, e para um adulto, essa mesma quantidade já excede a RDA. Isso não considera outras fontes de vitamina A que podemos consumir diariamente, como ovos, queijo, leite integral e até cereais fortificados.
Para colocar em perspectiva, mesmo sem comer fígado, você pode atingir as necessidades de vitamina A e até ultrapassar o limite tolerável. Por exemplo, consumir 2 colheres de sopa de manteiga de boa qualidade, 4 ovos pequenos e 2 copos de leite integral já pode fornecer cerca de 700 microgramas de vitamina A. Para crianças, uma colher de chá de manteiga, 3 fatias de bacon e 2 ovos pequenos no café da manhã, seguido por 120 gramas de carne moída e 90 gramas de frango com queijo cheddar durante o dia, já atinge as necessidades diárias de vitamina A, sem sequer incluir fígado.
O Desequilíbrio de Nutrientes: Cobre, Zinco e Vitaminas Lipossolúveis
Além da vitamina A, o fígado bovino é incrivelmente rico em cobre, fornecendo até 1.000% do valor diário em uma porção padrão de 100g. Apenas 28 gramas de fígado bovino já podem fornecer 300% do valor diário de cobre. O excesso de cobre é problemático porque ele compete com o zinco, um mineral vital para a função imunológica e, crucialmente, para a produção de ácido clorídrico (HCl) no estômago. Sem zinco suficiente, a digestão de carnes e a assimilação de nutrientes são comprometidas, e nossa capacidade de neutralizar toxinas nos alimentos diminui. O fígado bovino, apesar de rico em cobre, tem níveis de zinco relativamente baixos, criando um desequilíbrio potencial.
Outro ponto importante é o balanço das vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K). Embora a vitamina A seja abundante no fígado bovino (552% do valor diário em 100g), a vitamina D (1%), vitamina E (2.7%) e vitamina K (2.6%) estão em quantidades muito menores. A ideia de que essas vitaminas se "equilibram" no fígado bovino é falha, pois a desproporção é enorme, o que pode levar a um desequilíbrio nutricional sistêmico.
Fígado de Frango e Outras Fontes: Um Arco-Íris de Nutrientes
Felizmente, existem alternativas mais equilibradas. O fígado de frango, por exemplo, embora ainda rico em vitamina A, apresenta um perfil de cobre mais moderado (54% do valor diário em 100g), o que o torna uma opção mais equilibrada em relação ao zinco. Além disso, o fígado de frango é uma fonte surpreendentemente boa de vitamina C (20% do valor diário em 100g).
Para uma nutrição completa e equilibrada, a recomendação é abraçar o "arco-íris de carnes", diversificando as fontes de proteína e gordura animal. Incluir carne de porco, sardinhas, salmão, asas de frango, ostras, ovos, bife ancho e manteiga garante um espectro muito mais amplo de nutrientes essenciais, cobrindo deficiências que uma dieta focada apenas em carne bovina ou excesso de fígado pode apresentar (como deficiências de B1, magnésio, E, K, D, folato, cálcio, vitamina C e ômega-3).
O Mito do Folato no Fígado Bovino e a Indústria de Suplementos
Existe uma ideia difundida de que o fígado bovino é uma fonte excelente de folato. No entanto, ao analisarmos os números, o fígado de frango é na verdade o dobro mais rico em folato do que o fígado bovino por porção. Por exemplo, 100 gramas de fígado de frango oferecem 147% do valor diário de folato, enquanto 100 gramas de fígado bovino oferecem apenas 73%. Além disso, para pessoas com mutações no gene MTHFR, a suplementação com metilfolato pode ser mais eficaz, pois o folato presente nos alimentos pode não ser suficiente para corrigir desequilíbrios severos.
A indústria de suplementos de fígado, que movimenta milhões, frequentemente promove a ideia de que poucas cápsulas podem substituir o consumo de fígado in natura e fornecer todos os nutrientes necessários, incluindo o folato. A realidade é que para atingir níveis significativos de folato através de cápsulas, seria necessário consumir dezenas delas por dia (como 32 cápsulas de um suplemento comum), elevando o risco de toxicidade por vitamina A, cobre e B12 a níveis perigosos, além de ser financeiramente inviável. É mais eficaz obter folato de outras fontes animais ou considerar a suplementação direcionada sob orientação profissional.
A Qualidade do Fígado e a Desintoxicação
Outro ponto crucial é a qualidade do fígado que consumimos. Assim como humanos, animais também podem ter fígado gorduroso se alimentados incorretamente. Comprar fígado de animais criados em confinamento e alimentados com grãos levanta a questão: como saber se esse fígado não possui problemas de saúde ou toxinas acumuladas? O fígado é o principal órgão de desintoxicação do corpo, e ele passa por fases complexas para processar e eliminar toxinas. Consumir um fígado que já está sobrecarregado pode, paradoxalmente, adicionar mais carga ao nosso próprio sistema de desintoxicação.
Desnutrição em Meio ao Excesso e a Dinâmica da Suplementação
É um paradoxo em nossa sociedade que muitas pessoas com sobrepeso estejam, na verdade, desnutridas sob o ponto de vista de micronutrientes. Isso ocorre devido a uma alimentação pobre em nutrientes essenciais, rica em carboidratos processados, e muitas vezes focada em carnes magras e vegetais com antinutrientes que dificultam a absorção de vitaminas e minerais. Essa carência nutricional de base pode tornar o corpo mais vulnerável a desequilíbrios, mesmo quando se tenta corrigir com alimentos "saudáveis" ou suplementos em excesso.
No contexto da suplementação, especialmente com compostos como o Lugol (iodo), é importante estar ciente de que, em um primeiro momento, pode ocorrer uma "depletagem" de outros nutrientes, à medida que o corpo se ajusta e o iodo ativa vias metabólicas. Isso nos abre a possibilidade de, inicialmente, considerar uma dose maior de certos nutrientes para compensar essa demanda inicial e, posteriormente, ir adequando as doses conforme o corpo se reequilibra. A atenção a esses detalhes e o ajuste fino são responsabilidades de um bom profissional de saúde, capaz de interpretar os sinais do corpo e os resultados de exames.
Mineralograma: Uma Ferramenta Essencial para o Equilíbrio Nutricional
Para guiar essa jornada de equilíbrio nutricional, o mineralograma se destaca como uma ferramenta essencial. Mas o que é e como funciona?
O mineralograma é um exame que avalia os níveis de minerais no corpo, fornecendo um panorama sobre deficiências, excessos e o impacto da exposição a metais pesados.
Existem diferentes formas de realizá-lo:
Mineralograma da Palma das Mãos (espectrofotometria): Este método, como o realizado por tecnologias como o Quantum Oligoscan, é não invasivo e oferece resultados em tempo real. Ele utiliza a espectrofotometria para analisar os níveis de minerais essenciais (como cálcio, magnésio, zinco, cobre, selênio, potássio, fósforo, ferro, entre outros) e metais pesados (chumbo, mercúrio, alumínio, cádmio). Alguns desses dispositivos também fornecem indicativos de algumas vitaminas lipossolúveis (Vitamina A, E, D, K) e hidrossolúveis (Vitamina C, B6, B9, B12), embora a precisão para vitaminas ainda seja um tópico de pesquisa e o resultado deva ser interpretado como um indicativo e não uma dosagem exata. É uma excelente forma de iniciar a investigação de desequilíbrios.
Mineralograma Capilar (análise de cabelo): Este exame analisa o cabelo para determinar a concentração de minerais e metais pesados ao longo de um período de tempo (geralmente 3 meses), pois o cabelo armazena esses elementos à medida que cresce. É considerado uma boa ferramenta para avaliar a exposição crônica e o acúmulo de metais pesados, bem como tendências de longo prazo de desequilíbrios minerais. No entanto, sua capacidade de medir vitaminas é limitada ou inexistente.
Exame de Sangue: A dosagem sanguínea é o método mais direto e preciso para avaliar os níveis de muitas vitaminas (lipossolúveis e hidrossolúveis) e minerais no momento da coleta. É fundamental para confirmar deficiências ou excessos específicos, especialmente quando o mineralograma aponta uma direção.
A combinação dessas abordagens, guiada por um bom profissional de saúde, oferece uma visão completa e permite estratégias personalizadas para o restabelecimento da saúde. O mineralograma da palma das mãos, em particular, é um ponto de partida valioso para identificar o cobre em excesso, como abordado em nosso artigo, e outros desequilíbrios que podem estar impactando sua vitalidade.
Conclusão: Sabedoria e Equilíbrio na Alimentação Ancestral
Não há dúvidas sobre a densidade nutricional das vísceras. No entanto, a obsessão por consumir grandes quantidades de fígado, ou depender cegamente de suplementos, pode ser uma rota para o desequilíbrio em vez da saúde. A comparação de "grama por grama" entre fígado e outros cortes de carne ou peixe é falha, pois a maioria das pessoas consome quantidades muito maiores de carne muscular do que de vísceras.
A verdadeira força da alimentação ancestral reside na diversidade e no equilíbrio. Não precisamos forçar o consumo de algo que não nos faz sentir bem. Se o seu corpo sinaliza desconforto ao ingerir fígado, ou se seus exames funcionais indicam desequilíbrios, confie na sabedoria do seu próprio corpo e na orientação de um bom profissional de saúde que entenda dessa parte.
Na essência da dieta ancestral reside um mimetismo inteligente do estilo de vida de nossos antepassados. Imagine um dia a dia onde cada caçada oferecia uma fonte de alimento diferente — ora um corte suculento de carne, ora miúdos ricos em nutrientes específicos, ora peixes e frutos do mar repletos de minerais. Essa diversidade natural garantia um contato com um amplo espectro de nutrientes, essenciais para o funcionamento pleno do nosso corpo. Essa é a verdadeira sabedoria ancestral: compreender que a variedade, a qualidade e a sazonalidade dos alimentos de origem animal nos proporcionam tudo o que precisamos para prosperar.
Priorizar a qualidade dos alimentos, a variedade das fontes de proteína animal e um olhar atento aos sinais do seu corpo é o caminho para a verdadeira cura da causa raiz. A saúde não está em um único "superalimento" em excesso, mas sim em uma sinfonia de nutrientes e uma abordagem inteligente e consciente à nossa nutrição.
Eu sou Amélia Bretas,
Ajudo pessoas a conquistarem emagrecimento rápido, bem-estar físico e emocional, combinando alimentação ancestral, jejum inteligente e desenvolvimento pessoal.
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